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Um ano

Hoje faz um ano que estou aqui. Só tenho uma coisa a dizer.

Sobrevivi.

Procurei o paraíso.

Fui andando, nunca sabendo o que ia encontrar… até chegar lá.

“Una selva oscura” etc…

Virei japanóloga.

Achei algo.

Vida

Aproveito esta ilustre ocasião do meu aniversário para avisar que ao momento que escrevo estas linhas, ainda estou viva. E em Munique. O meu estado nesses meses que não escrevi nada pode ser resumido pela foto acima. Porém! Apesar de minhas incertezas financeiras e burocráticas continuarem as mesmas, os meus estudos estão épicamente orgasmáticos. Cósmicos. E nada como uma boa dose de cosmicidade para tirar alguém do marasmo.

Sobre meu aniversário. Tenho que admitir que cada vez mais eu tenho vontade de ignorar essas datas. Natal, Ano Novo, Aniversário. Eu gosto de celebrações e acho importante essas marcas que regulam o ritmo da vida. Mas cada vez que a data em si chega, eu fico deprimida. Porém! O caso hoje é um pouco diferente. Eu cumpro 26 anos. 26. Passando da marca mítica dos 25, eu não faço a mínima idéia como avaliar esse novo espaço de tempo à minha frente. Foram 26 anos importantes e agradeço por cada segundo, bom ou ruim, pois me ajudaram a chegar onde estou agora. Mas também quero que eles desapareçam e nunca mais voltem. É a hora de olhar para a frente. E, estranhamente, eu sei que ainda sou a mesma garota que, desde que me lembro como gente, olha para as estrelas e, apontando para os mais profundos confins do universo, diz:

“Eu quero ir para .”

O estado das coisas

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Hoje faz seis meses que estou aqui. Seis meses. E não vou mentir pra vocês. Não foram seis meses bons. Estou enlouquecendo.

No começo, os primeiros 3 meses mais ou menos, eu só estava em choque. Era tudo novo, milhões de coisas ao mesmo tempo e fui indo. Mas agora não. Seis meses de solidão absoluta pesam pra cacete. Mesmo falando com o Gabriel pelo Skype quase todo dia, posso garantir que não é a mesma coisa. Os 650 euros de dívidas de aluguel que só deus sabe como vou pagar, e os alemães querendo quebrar minhas pernas. O fato de ficar com medo quando tenho que sair de casa porque cada saída são 5 euros de transporte. Porque roubaram minha bicicleta. Esse negócio de mudar pra Berlim que não sei como e se vai dar, e se der vão ser 50 trilhões de dores de cabeça, e se não der vai ser o fim do meu contrato de aluguel aqui e mais 500 euros pro próximo semestre. E não existe nenhum financiamento ou bolsa para estrangeiro nos primeiros 4 semestres.

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Enfim. Só avisando que mudei o nome do blog, não só porque de fear and loathing basta minha existência, como também porque mudei de vez pra japanologia como matéria principal, e história medieval e antiga como matérias secundárias. Porque se por algum milagre eu conseguir me formar, o melhor que pode acontecer como historiadora é eu ficar aqui na Alemanha depois de graduada. CRUZ. CREDO.

Estou empolgada e a fim de estudar japanologia. O coordenador foi legal comigo e me deixou entrar logo no segundo semestre, e vai ter alguns seminários neste próximo semestre que achei muito interessantes. O negócio é que se as coisas não mudarem, e logo, não dá pra aguentar. Eu não consigo imaginar mais 6 meses assim. E 4 anos? Impossível. Nem todos os livros e torrents do mundo vão salvar minha sanidade.

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Poder de mente

US Dept of Psy Ops

Enchi. O. Saco.

Senhoras e senhores, veio por meio desta anunciar que vou cair o fora daqui.

De Munique. Porque apesar da universidade ser absolutamente fodassaralhásticamente incrível, são necessários ouros demais para viver aqui. Além da falta geral de sintonia com as pessoas. Logo, na melhor tradição de cigana universal, resolvi me mudar. Para onde der. De preferência berlim, mas estou aberta a sugestões.

Mas calma. Isso vai ser só mais tarde. Porque já paguei por esse próximo semestre, e ainda tenho um contrato de aluguel apesar de dever grana pra eles. Vamos ver.

Agora falando em coisas boas. Primeiro, eu vi uma exposição épicamente orgásmica de incunabula na Stabi. Tinha a versão alemã das Viagens de John Mandeville, com a página aberta que fala das índias. Iluminuras do gênesis, com deus criando a terra e adão e eva. Testes tipográficos. Impressões em ouro. Gravuras! Uma gravura que devia ter 1 metro de comprimento mostrando o porto de veneza. A BÍBLIA DO GUTENBERG. Aquela. Além de outros livros que ele fez logo depois.

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Isso tudo de verdade. Não dá pra acreditar. Eu fiquei horas em cada livro, com o nariz colado no vidro, olhando cada detalhe. Que algum monge medieval realmente colocou a pena na tinta e escreveu isso. Ou alguém realmente enfileirou os tipos e imprimiu aquilo. Que alguma pessoa medieval realmente comprou aquele folheto, segurou na mão e achou engraçado, ou edificante, ou chato.

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Segundo, eu voltei a estudar japonês, e saí da filosofia pra entrar para a japanologia, com a grande ajuda da sensei no Brasil. Continuo com história como matéria principal, mas resolvi fazer uma coisa mais útil da matéria secundária. Útil tipo os contatos que eles tem com universidades no Japão. Eu tinha me esquecido como gosto de estudar japonês. É um prazer essa língua. E sem contar que já estou com vários projetos japonesísticos na tal da cartola da qual gosto de puxar as coisas. Esperem e verão.

Terceiro, a Colméia existe. Não estou organizando nada mas estou escrevendo, e tem um conto meu na primeira edição. Então olhem.

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Caseirices

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Não resisti tirar essa foto. As compras estavam tão bonitinhas na caixinha, e tem até alguns itens de luxo aí. Luxo quer dizer qualquer coisa que não seja do Aldi, o supermercado mais barato mas também limitado. Por exemplo, a farinha e o arroz integrais não tem no Aldi e tenho que ir no mercado de alemão rico. Fazer o que.

Aqui tem alguns exemplos do que eu faço com todas essas coisas boas do Aldi:

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Pavê de banana. Quark light, pão integral de alemão, mel, müsli, aveia e banana. Ficou muito bom e não precisa de forno.

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Hamburguer de pão integral e feijão em lata. O macarrão não é integral, o que me irrita, mas custa 35 centavos de euro o pacote.

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É isso que faço mais vezes. Paneladas. Neste caso de lentilhas com cenoura e arroz integral. Pra acompanhar, crackers integrais com mostarda.

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Outro luxo, mas esse é do Aldi. Vinho barato, porém bebível. E vinho é necessário! 1 litro por 1,30 euros.

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Eu fui na Muji hoje! As coisas são tão lindas, mas como tudo custa ouros eu fiquei no bloquinho e apontador mesmo. Mas eu peguei o catálogo!

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A pessoa na foto está fiando. O que é exatamente o que estou fazendo agora. Estou aprendendo a fiar que nem as pessoas na idade média.

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De resto, feliz Tanabata ou Festival das Estrelas atrasado pra vocês! Só deu pra fazer isso e fiquei em casa no dia. Vou ver se da próxima vez eu acho uma comunidade japonesa por aqui. E pelo menos uso um bambu em vez desse galho de árvore ocidental.

Ritterspiele

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Novidades na terra da Weisswurst! Passei estes últimos dois finais de semana trabalhando (uhu! euros/ouros!), vendendo um doce tcheco em feiras medievais. Fodassaralho! O primeiro final de semana foi um feriadão, então foram uns 4 dias direto. Ficamos eu, o chefe tcheco e uma outra mulher assistente em uma casinha muito bonitinha em um Bauernhof nas redondezas da feira. Foi absurdamente legal, tive até tempo de passear na floresta e ver as estrelas à noite, e acho que nunca vi um céu tão limpo na minha vida. Na feira fiquei amiga de uns Landknechte, que me chamaram pra sentar junto no Lager deles, e um turco que faz sapatos medievais muito incríveis.

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Eis o nosso stand (não sou eu na foto). O doce chama-se Trdelnik, e é uma massa que é enrolada nos rolinhos, assada sobre a brasa e rolado em açúcar. Por alguma razão acabei virando a mestra do fogo. O pessoal nunca prestava atenção direito no fogo e acho que meu sangue argentino tomou conta. No final eles é que me perguntavam quando o fogo estava bom! Isso numa coisa que nunca tinha feito antes. O problema é que estamos no verão, e quando faz sol fica quente pra caramba do lado do fogo. Bem, mas como todo mundo faz tudo eu também tive minha chance de amassar e enrolar os doces.

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Eis meu uniforme do primeiro final de semana. Neste último tinha uma blusa nova bem mais bonita, com mangas bufantes e uns detalhes legais no pescoço, mas não tive como tirar fotos.

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Lagerleben! De longe o mais legal, apesar das pessoas me ignorarem completamente. Tentei puxar papo pra conhecer o pessoal mas sem sucesso. Sem contar que muitas vezes eu não entendia nada do bayerisch. Os Landknechte pelo menos falavam um alemão mais normal.

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Esse cara estava fazendo um arco. Eu queria muito que ele me explicasse como ele faz, onde aprender a atirar de arco-e-flecha etc, mas de novo, ele achou o pedaço de madeira muito mais interessante do que eu.

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Fodassaralhaças as armaduras que o pessoal tem. Eu fico horas babando, vendo os detalhes.

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Esse é o torneio, onde tem um teatrinho no começo. Cara bom (azul) contra cara mau (preto). Nada medieval, mas divertido.

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ESSA é a parte legal. Mulher guerreira fantasy! Só fiquei chateada que ela não luta de espada.

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Quando eu tiver um cavalo, eu quero um que nem esse preto. É o maior cavalo que eu já vi. Ele tem quase o dobro do tamanho do cavalo da mulher, que é o tamanho de um cavalo normal. Reparem na diferença! Cavalo gigante de armadura = WIN.

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Isso foi no último final de semana. Fiquei conversando com este senhor simpático, que me deixou ficar na tenda do grupo dele e fez uma Urkunde pra mim! Olhem só que legal:

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Agora ao que interessa. Espadas! Armaduras! Um ferreiro sem camisa!

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Quero muito esses potes, e os preços estavam bons. Talvez eu junte dinheiro para a próxima feira.

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Esse pessoal é uma família inteira vivendo da maneira medieval. Morri de inveja e de admiração, estava MUITO bem feito. Conversei um tempo com o marido dela, muito gente fina.

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Eu querooooo.

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Freaking guarantee

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Oh it’s bad luck to be you
Don’t think for just a second it’s not true
When your life is run amok
You will see that you’re the schmuck
Oh it’s bad luck to be
Really bad luck to be
Nobody could disagree
It’s a freaking guarantee
It’s bad luck to be you

Em vez de texto, hoje tenho um videozinho pra vocês. Feito com carinho.


Frustrações metafísicas

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Esse, como vocês podem ver, é meu livro de cabeceira, e ele não tem quase nada a ver com meus estudos, pelo menos no momento, mas estou lendo por puro prazer. Não resisti ao título, e agora que tenho o poder das bibliotecas eu o estou usando sem nenhuma parcimônia. Lotes e mais lotes de livros eu carrego para casa de bicicleta, isso sem contar o que eu leio nas bibliotecas presenciais. É uma maravilha.

Agora, porque frustrações? Quero deixar bem claro que todas as minhas aulas estão sendo fodas, estou estudando coisas fodas e realmente aprendendo alguma coisa. Eu não lembro qual foi a última vez que estive em uma sala de aula sem que isso fosse uma completa perda de tempo. O legal que isso depende completamente do trabalho feito. Quanto mais eu me empenho, maiores são os resultados, e eu crio meu próprio método e ritmo. Muito legal. Porém.

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Fiz uma apresentação no meu seminário de história. Estamos estudando peregrinações na idade média, um assunto de fodices abundantes e variadas. No espírito, eu preparei uma apresentação cheia de citações, imagens, mapas e histórias de viagens incríveis. Eu queria falar de terras além do mundo conhecido, as maravilhas do oriente, a vontade do homem diante dos perigos. Cidades de ouro, tumbas cheias de mistério e poder, templos cintilantes.

Pois é, só que meia hora é muito menos tempo do que eu imaginava, então a apresentação foi correta, porém não mágica. E isso me fez pensar sobre o que me estava incomodando, não na matéria em si, mas nas aulas. A falta crônica de magia no coração.

Eu sei que estou na alemanha. E que este é meu primeiro semestre. Mas certas coisas começam a irritar depois de um tempo. Vejam por exemplo minha aula de metafísica. Não importa o livro que eu pegue ou o texto que o professor passe, sempre chega um ponto em que aparece o seguinte:

“Mas é óbvio que ninguém em sã consciência acredita em [X].”

“Sendo que [X] é falso, vou continuar com minha argumentação.”

E o meu preferido:

“Dizem que no oriente as pessoas acham [X], mas eu não acredito.”

X é, óbviamente, tudo o que acho legal. É claro que eu sempre tento me colocar nos pés do autor, ver o mundo da maneira dele, comer o que ele come no café da manhã. Naturalmente eu concordo com tudo que meu professor acha, especialmente na hora da prova. Mas chega um momento que meu ser mágico quebra as correntes e arrasa tudo que vê pela frente. Como estudar nessas horas?

Como sempre, a resposta está em Borges. Salvação na literatura. Isso acarreta a depressão de não ser Borges, de não poder ser Borges, mas pelo menos já é uma mudança. E nesse caso o resultado está mais para Lewis Caroll. Divirtam-se.

P.S.: No link acima, além dos contos tem tudo o que faço para a faculdade, se estiverem interessados. Além de um bando de links legais.

Flohmarkt

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Ontem eu fui no Flohmarkt München-Riem à procura de uma bicicleta barata. E, yay!, achei exatamente o que estava querendo na segunda bicileta que olhei. Um visual clássico em vinho com detalhes dourados, 3 marchas, trava embutida e tudo por 33 euros. O cara queria me cobrar 38, mas depois de pechinchar um pouco ele desceu o preço. O que aliás é a regra em qualquer Flohmarkt.

Depois disso fui pra Theresienwiese (o lugar do Oktoberfest), no qual também estava tendo outro Flohmarkt, o que acabei nem vendo porque ele ficava no meio de um parque de diversões! Daqueles à moda antiga, nos quais eu morava quando era criança. Achei o máximo, e é realmente uma pena que estou sem dinheiro. Queria muito ter ido nos brinquedos e ter comido besteira até explodir. Quem sabe no próximo.

Flohmarkt Riem:

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Parque na Theresienwiese:

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Frankfurt

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Pois é, Frankfurt. Fui lá no dia 8 porque precisava falar com meu consulado, o que não existe em Munique. A história longa e chata é a seguinte.

Logo depois que cheguei aqui eu quis abrir uma conta na Deutsche Bank, e o imbecil que me atendeu disse que não aceitam meu passaporte, e me mostrou um modelo que eles tem do passaporte argentino. E sim, eu vi que era diferente do meu. Então eu marquei um horário no consulado e fui lá gastar muitos euros em trem. Chegando lá eu expliquei minha história e eles ficaram chateadíssimos, já que o meu passaporte é perfeitamente válido. O que me foi mostrado no banco era o passaporte que é emitido na argentina, e que não é igual ao meu, emitido no brasil. Os dois são igualmente válidos em toda a alemanha. Eu e eles ficamos horas discutindo com o banco no telefone, e de novo os imbecis disseram que eu poderia tentar de novo abrir uma conta, “mas eles não prometem nada”.

Pelo menos eu saí do consulado com uma promessa que se o banco me desse problemas novamente, o cônsul iria ligar pessoalmente para o Deutsche Bank para resolver essa história. Como meu trem de volta só sairia de madrugada, eu fiquei vagando pela cidade até encher o saco, e passei o resto do tempo lendo um livro fantasy.

No final das contas, depois dos feriados da páscoa eu fui de novo pro banco, dessa vez na filial que é do lado da Studentenstadt, só esperando acontecer o incidente diplomático. E o que aconteceu? Nada. Minha conta foi aberta na hora, sem problemas.

Moral da história… Cuidado com imbecis. E bancos.

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